Comorbidades no autismo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que, por si só, já apresenta grande variedade de manifestações. No entanto, é muito comum que pessoas autistas também tenham comorbidades ou seja, outras condições de saúde que coexistem com o autismo. Reconhecer essas comorbidades é fundamental para oferecer um acompanhamento adequado e melhorar a qualidade de vida da pessoa no espectro.
Neste artigo, vamos entender quais são as comorbidades mais comuns no autismo, como elas impactam o desenvolvimento e por que um diagnóstico cuidadoso faz toda a diferença.
O que são comorbidades?
Comorbidades são condições de saúde adicionais que ocorrem ao mesmo tempo que o diagnóstico principal no caso, o TEA.
Essas condições podem:
- Tornar os sintomas do autismo mais intensos.
- Alterar a forma como a pessoa responde às terapias.
- Exigir tratamentos específicos e integrados.
Estima-se que até 70% das pessoas com autismo tenham ao menos uma comorbidade associada.
Principais comorbidades associadas ao autismo:
1. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
- É uma das comorbidades mais frequentes.
- Caracteriza-se por impulsividade, hiperatividade e/ou dificuldade de manter a atenção.
- Em alguns casos, os sintomas do TDAH podem mascarar ou confundir o diagnóstico do autismo.
Importante: Desde o DSM-5 (manual de diagnóstico psiquiátrico), é permitido diagnosticar TEA e TDAH simultaneamente.
2. Transtornos de ansiedade
- Muitos autistas apresentam ansiedade social, ansiedade generalizada ou transtornos obsessivo-compulsivos (TOC).
- A ansiedade pode se manifestar através de rigidez comportamental, necessidade extrema de rotina ou medo de mudanças.
- Sem tratamento, a ansiedade pode limitar ainda mais a interação social e a autonomia.
3. Transtornos do sono
- Dificuldades para iniciar ou manter o sono são muito comuns em pessoas autistas.
- A má qualidade do sono pode agravar irritabilidade, dificuldade de concentração e comportamentos desafiadores.
Tratamentos possíveis: higiene do sono, técnicas comportamentais e, em alguns casos, uso de melatonina.
4. Epilepsia
- Aproximadamente 20% a 30% das pessoas com TEA desenvolvem epilepsia em algum momento da vida.
- As crises epilépticas podem variar de discretas a mais intensas.
- Um acompanhamento neurológico é fundamental para diagnóstico e controle adequado.
5. Distúrbios gastrointestinais
- Constipação, diarreia, refluxo e dor abdominal são queixas frequentes.
- Podem afetar o comportamento (a dor, por exemplo, pode gerar irritabilidade) e o desempenho escolar.
- Dieta adequada e tratamento médico são importantes para manejo dos sintomas.
6. Transtornos do humor
- Depressão e transtorno bipolar podem ocorrer em adolescentes e adultos autistas.
- Muitas vezes são subdiagnosticados, pois a forma de expressar tristeza ou desânimo pode ser diferente.
7. Transtornos alimentares
- Seletividade alimentar intensa pode evoluir para quadros de transtorno alimentar evitativo/restritivo (ARFID).
- Também é importante diferenciar questões sensoriais de transtornos de imagem corporal em adolescentes.
8. Disfunções sensoriais
- Embora a hipersensibilidade ou hipossensibilidade sensorial sejam características do próprio TEA, quando muito intensas, podem se configurar como distúrbios sensoriais que exigem intervenção especializada.
Impacto das comorbidades no tratamento do autismo
O tratamento do TEA precisa considerar todas as condições associadas, porque:
- Comorbidades não tratadas podem atrapalhar a evolução da pessoa nas terapias principais.
- Podem gerar comportamentos desafiadores que não estão diretamente ligados ao autismo em si (por exemplo, crises causadas por dor gastrointestinal não diagnosticada).
- Exigem uma abordagem interdisciplinar, com médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, entre outros.
Cada comorbidade requer uma estratégia específica, integrada ao plano de desenvolvimento da pessoa.
Diagnóstico diferencial e importância da avaliação cuidadosa
Algumas condições podem parecer autismo ou coexistir com ele.
Por isso, uma avaliação detalhada deve considerar:
- Histórico de desenvolvimento.
- Avaliações comportamentais e cognitivas.
- Observação clínica direta.
- Entrevistas com familiares e professores.
O objetivo é não reduzir o diagnóstico apenas ao autismo quando existem outras condições que precisam ser tratadas de maneira paralela.
Como apoiar uma pessoa com autismo e comorbidades?
- Oferecer tratamentos combinados (como medicação para epilepsia junto com terapia comportamental, por exemplo).
- Adaptar as expectativas e os objetivos terapêuticos ao perfil real da pessoa.
- Promover ambientes escolares e sociais que respeitem as dificuldades sensoriais, de atenção e de regulação emocional.
- Fortalecer a rede de apoio, com envolvimento da família e de profissionais de diferentes áreas.
Conclusão
As comorbidades no autismo são mais comuns do que se imagina e impactam diretamente o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa no espectro. Reconhecer, diagnosticar e tratar essas condições de maneira integrada é essencial para garantir que cada pessoa autista tenha acesso a um cuidado mais completo, humano e eficaz.
Autismo e comorbidades não definem limitações, eles apontam caminhos para intervenções mais respeitosas, eficientes e personalizadas.