Quais são os tipos de autismo?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica complexa que influencia a maneira como a pessoa se comunica, interage socialmente e percebe o mundo ao seu redor. Por muito tempo, o autismo foi classificado em diferentes tipos clínicos, mas com o avanço dos estudos e a publicação do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), em 2013, esses subtipos foram unificados sob o termo "espectro". Ainda assim, para fins de compreensão e adaptação de estratégias terapêuticas, muitos profissionais e famílias ainda usam termos antigos ou falam de diferentes perfis dentro do espectro.
Neste artigo, vamos entender como o autismo era classificado, como é visto atualmente e quais são os principais perfis de pessoas autistas.Classificação antiga: subtipos de autismo
Antes do DSM-5, o manual que orientava o diagnóstico de transtornos mentais trazia diferentes categorias para o autismo. Eram elas:
1. Autismo Infantil Clássico
Conhecido também como autismo de Kanner, em homenagem ao médico Leo Kanner, que descreveu a condição nos anos 1940. Características principais:
- Dificuldades severas de comunicação verbal e não verbal.
- Pouco ou nenhum interesse em interações sociais.
- Comportamentos altamente repetitivos.
- Frequente presença de deficiência intelectual associada.
Era considerado o “autismo típico”, geralmente identificado nos primeiros anos de vida.
2. Síndrome de Asperger
Descrita por Hans Asperger, essa síndrome incluía indivíduos com:
- Desenvolvimento de linguagem dentro da média ou avançado (sem atraso significativo na fala).
- Dificuldades sociais importantes.
- Interesses altamente focados e comportamentos repetitivos.
- Inteligência frequentemente normal ou acima da média.
Hoje, a Síndrome de Asperger é reconhecida como parte do espectro autista.
3. Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação (PDD-NOS)
Essa categoria era usada para pessoas que apresentavam alguns sintomas de autismo, mas que não se encaixavam completamente nos critérios para o autismo clássico ou a Síndrome de Asperger.
Características:
- Sintomas mais leves ou atípicos.
- Desenvolvimento desigual de habilidades.
- Dificuldades sociais e comportamentais variadas.
4. Síndrome de Rett
Embora hoje seja considerada uma condição distinta (com causa genética conhecida), a Síndrome de Rett foi, durante algum tempo, classificada dentro do espectro autista.
Ela afeta quase exclusivamente meninas e envolve:
- Perda progressiva de habilidades motoras e de fala após um desenvolvimento inicial aparentemente normal.
- Comportamentos repetitivos como esfregar as mãos.
5. Transtorno Desintegrativo da Infância
Uma condição muito rara em que a criança desenvolve-se normalmente até cerca de 2 a 4 anos e, então, perde abruptamente habilidades sociais, comunicativas e motoras.
Mudança no DSM-5: conceito de espectro
Com a publicação do DSM-5, todos esses subtipos foram integrados sob o diagnóstico único de Transtorno do Espectro Autista. A ideia é que o autismo varia em um espectro contínuo, com diferentes níveis de suporte necessários, e não em categorias separadas.
Agora, ao invés de rotular diferentes "tipos", os profissionais avaliam:
- A gravidade dos sintomas sociais e comportamentais.
- O nível de suporte necessário para a pessoa funcionar no dia a dia.
- A presença de condições associadas, como deficiência intelectual ou transtornos de linguagem.
Perfis comuns dentro do espectro
Embora oficialmente o diagnóstico seja unificado, ainda podemos falar, de maneira prática, de perfis variados entre pessoas autistas:
1. Autismo de Alto Funcionamento
Refere-se a pessoas que têm habilidades cognitivas e de linguagem próximas ou acima da média. Essas pessoas podem ter desafios sociais importantes, mas conseguem certo grau de independência acadêmica e profissional.
Observação: O termo "alto funcionamento" é controverso, pois pode mascarar dificuldades reais de quem aparenta funcionar bem externamente, mas enfrenta grandes desafios internos.
2. Autismo com Deficiência Intelectual Associada
Algumas pessoas autistas apresentam também deficiência intelectual, o que impacta áreas como comunicação, aprendizado e autonomia.
O suporte necessário costuma ser mais intenso, focando em promover a qualidade de vida, habilidades práticas e interação social.
3. Autismo Não Verbal
Alguns indivíduos do espectro não desenvolvem a fala funcional. Isso não significa ausência de inteligência, mas sim uma dificuldade específica na comunicação verbal. Muitas vezes, essas pessoas se expressam por meios alternativos, como dispositivos de comunicação aumentativa ou gestos.
4. Autismo com Habilidades Excepcionais (Savants)
Cerca de 10% das pessoas autistas apresentam habilidades extraordinárias em áreas específicas, como:
- Matemática.
- Memorização.
- Música.
- Arte.
Essas habilidades são chamadas de "ilhas de competência" e podem coexistir com desafios em outras áreas.
Importância de reconhecer a diversidade
Compreender que existem diferentes formas de manifestação do autismo é essencial para:
- Oferecer suporte adequado e personalizado.
- Evitar estereótipos limitantes sobre como “deveria ser” uma pessoa autista.
- Promover inclusão em escolas, ambientes de trabalho e na sociedade em geral.
Cada pessoa autista é única, com suas próprias forças, desafios e maneiras de se comunicar com o mundo.
Conclusão
Embora o termo "tipos de autismo" tenha sido usado por muito tempo, hoje sabemos que o autismo é um espectro. As manifestações podem variar imensamente de uma pessoa para outra, e o importante é reconhecer essa diversidade e atender às necessidades individuais.
Mais do que se prender a rótulos, a sociedade deve se empenhar em criar ambientes mais acessíveis, compreensivos e respeitosos para todas as formas de existência humana.
Entender o autismo como um espectro nos aproxima de um mundo mais inclusivo e empático.