O que é masking no autismo?
Nem sempre o autismo é visível. Muitas pessoas no Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente mulheres e indivíduos com autismo leve, aprendem a camuflar seus comportamentos autísticos para se adaptar às expectativas sociais. Esse fenômeno é conhecido como masking (camuflagem social) e, embora possa facilitar a aceitação social em curto prazo, tem impactos emocionais profundos.
Neste artigo, vamos entender o que é o masking, por que ele acontece, quais são suas consequências e como podemos apoiar pessoas que passam por isso.
O que é Masking?
Masking é o esforço consciente ou inconsciente que uma pessoa autista faz para:
- Esconder ou minimizar comportamentos autísticos.
- Imitar comportamentos neurotípicos (pessoas não autistas).
- Adaptar sua comunicação, expressão emocional e linguagem corporal para se encaixar em ambientes sociais.
Isso pode incluir:
- Forçar contato visual.
- Copiar gestos, tons de voz e expressões faciais.
- Suprimir interesses intensos ou movimentos repetitivos (como balançar as mãos).
- Ensaiar conversas ou respostas “socialmente adequadas”.
Importante: Masking não significa que a pessoa deixou de ser autista ela apenas está escondendo traços que poderiam gerar exclusão ou julgamento.
Por que o masking acontece?
O masking é uma estratégia de sobrevivência social.
Pessoas autistas recorrem à camuflagem porque:
- Querem ser aceitas em ambientes escolares, profissionais ou familiares.
- Sentem medo de serem alvo de bullying, preconceito ou exclusão.
- Percebem, desde cedo, que seu comportamento natural é visto como “errado” ou “estranho”.
Embora o masking possa ter efeitos positivos a curto prazo (como evitar rejeições), a longo prazo ele cobra um preço emocional alto.
Como o masking se manifesta?
Alguns exemplos de masking incluem:
- Fingir entender piadas ou sarcasmos para não se sentir deslocado.
- Sorrir ou rir de forma automática, mesmo sem achar engraçado.
- Evitar falar sobre seus interesses especiais para não parecer “obsessivo”.
- Observar constantemente o comportamento dos outros para copiar como devem agir.
- Planejar mentalmente interações sociais em detalhes para evitar gafes.
Muitas vezes, o masking é tão automático que a própria pessoa autista só percebe que está se camuflando depois de anos.
Consequências emocionais do masking
1. Exaustão
- Manter a máscara social é extremamente cansativo.
- Muitas pessoas relatam sensação de esgotamento mental e físico após interações sociais.
2. Ansiedade e depressão
- O medo constante de “errar” e ser “descoberto” aumenta o risco de transtornos de ansiedade e depressão.
3. Crises emocionais privadas
- Muitas pessoas autistas mantêm o controle em público, mas têm crises de choro, irritabilidade ou shutdowns em ambientes seguros (como em casa).
4. Dificuldade de autoconhecimento
- Ao passar anos tentando se encaixar, a pessoa pode perder a conexão com seus próprios sentimentos, gostos e necessidades.
5. Diagnóstico tardio
- O masking pode atrasar o diagnóstico de autismo, especialmente em meninas e mulheres, pois os sinais ficam menos visíveis para profissionais de saúde.
Masking é sempre consciente?
Não. Muitas vezes, o masking começa de forma inconsciente ainda na infância, como uma forma automática de se proteger socialmente.
À medida que a pessoa cresce, o masking pode se tornar um hábito tão enraizado que ela nem percebe que está se esforçando para parecer "normal".
Como apoiar pessoas que fazem masking?
1. Validar seus sentimentos
- Reconheça que camuflar o autismo é um esforço real e que pode ser doloroso.
2. Criar ambientes seguros
- Ambientes onde a pessoa pode ser ela mesma, sem julgamentos, reduzem a necessidade de masking.
3. Incentivar a autoexpressão
- Valorize a autenticidade: permita que a pessoa compartilhe seus interesses, seus modos de se comunicar e seus jeitos de ser.
4. Promover a consciência social
- Ensinar a sociedade a respeitar diferentes formas de ser é mais eficaz do que ensinar autistas a esconderem quem são.
Masking e identidade autista
Para muitas pessoas autistas, reconhecer que praticam masking é o primeiro passo para:
- Entender seus limites.
- Resgatar sua verdadeira identidade.
- Construir relações mais autênticas.
A meta não é forçar a pessoa a se expor, mas sim permitir que ela escolha quando e como se camuflar, com consciência e autonomia.
Conclusão
O masking é uma estratégia comum entre pessoas autistas para sobreviver em um mundo que ainda valoriza a conformidade acima da diversidade.
Embora possa ajudar temporariamente na aceitação social, ele cobra um preço alto em termos de saúde mental e autenticidade.
Criar ambientes que respeitem a verdadeira identidade de cada pessoa — com seus movimentos, suas palavras e suas emoções — é essencial para reduzir a necessidade de camuflagem e construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva.