Relato: Como descobri que sou autista — a história de Pedro
No começo, eu só me achava diferente
Sou Pedro, tenho 31 anos, moro em Belo Horizonte e trabalho com design gráfico. Desde criança eu sempre me senti “fora do ritmo” das outras pessoas. Enquanto meus colegas conversavam com facilidade, eu ficava observando em silêncio, tentando entender o que era engraçado nas piadas. Barulhos altos me incomodavam, roupas com certas texturas me deixavam irritado e qualquer mudança de rotina parecia o fim do mundo. Mas durante muito tempo eu achei que isso era apenas “meu jeito de ser”.
A escalada invisível
Na adolescência, as diferenças começaram a pesar. Eu não entendia olhares, ironias ou regras sociais que pareciam óbvias para todo mundo. As pessoas me chamavam de “frio” ou “sem emoção”, quando na verdade eu sentia tudo em excesso — só não sabia como expressar. Eu me isolava cada vez mais, criando meu próprio mundo de interesses intensos, como astronomia e videogames, que eram minha forma de paz e previsibilidade.
As primeiras consequências
Com o tempo, a dificuldade de interação começou a afetar o trabalho e os relacionamentos. Eu evitava reuniões, achava difícil olhar nos olhos das pessoas e me sentia exausto depois de qualquer evento social. Comecei a acreditar que havia algo errado comigo, e isso levou à ansiedade, insônia e períodos de tristeza profunda. Passei anos mascarando meu jeito, tentando “agir normal”, mas quanto mais eu fingia, mais distante eu me sentia de mim mesmo.
O ponto de ruptura
Aos 25 anos, tive uma crise de esgotamento. Chorava sem motivo aparente, não conseguia manter foco e evitei todos os contatos sociais. Foi nesse momento que procurei um psicólogo, achando que tinha depressão. Após meses de conversas e avaliações, ele sugeriu uma hipótese que eu nunca tinha considerado: autismo. No início, achei impossível. Mas conforme fiz as avaliações com uma equipe especializada, tudo começou a fazer sentido — desde minha infância até meus hábitos e sensibilidades.
O reconhecimento e os primeiros passos
Receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA nível 1) foi um alívio e um choque ao mesmo tempo. Pela primeira vez, minha vida inteira tinha uma explicação. Eu não era “esquisito”, “frio” ou “antissocial”. Eu era autista — e isso explicava meus padrões de pensamento, minha forma intensa de sentir e o desconforto em ambientes caóticos. Passei a buscar informação, conhecer outras pessoas autistas e entender minhas necessidades reais.
O aprendizado de ser quem eu sou
Descobrir o TEA não me curou, mas me libertou. Aprendi a respeitar meus limites, a usar fones de ouvido em ambientes barulhentos, a pedir pausas e a não me culpar por precisar de rotina e previsibilidade. Aprendi que empatia não se mede por expressões faciais, e sim por intenção e respeito. Hoje, trabalho de forma adaptada, com horários flexíveis, e mantenho uma rede de apoio com familiares, terapeutas e amigos que realmente me entendem.
O que me vem por aí
Ainda enfrento desafios diários, especialmente com comunicação e sobrecarga sensorial, mas finalmente entendo quem eu sou. O diagnóstico não me limitou — me explicou. Se você também se sente deslocado, busque ajuda profissional. Às vezes, a resposta que muda tudo não é um rótulo, mas o autoconhecimento.
Espero que meu relato inspire você a se olhar com mais carinho. Ser autista é apenas uma forma diferente e linda de existir no mundo.